terça-feira, 10 de abril de 2012

ANDERSON BRAGA HORTA UM CARANGOLENSE

                            ANDERSON BRAGA HORTA     
 
 
 


Nasci em Carangola, MG, em 17.11.1934, filho de Anderson de Araújo Horta e Maria Braga Horta. A família morou, sucessivamente, em Manhumirim, Belo Horizonte, novamente em Manhumirim, depois em Resplendor, Mutum, outra vez em Carangola, já acrescida dos manos Arlyson, Augusto Flávio e Maria da Glória. Em 1942 fomos para Goiás, passando três anos na antiga e dois na nova capital do Estado. Em Goiás Velho nasceu o caçula, Goiano.

De volta a Minas, novo périplo em redor de Manhumirim, onde residiam meus avós maternos: Aimorés, Mantena, Lajinha, cidades que visitava nas férias, pois, tendo começado o ginásio em Goiânia, fiz, nesse período (de 1947 a 1953), as três últimas séries em Manhumirim e o clássico em Leopoldina. Já me encontrava no Rio de Janeiro, cursando Direito, quando para lá se mudou a família, em 1956.

Transferi-me para Brasília em julho de 1960, como redator da Câmara dos Deputados, a cujo serviço fora admitido em 1957 como datilógrafo. Os irmãos foram também atraídos pelo Planalto Central, a que finalmente aportaram os pais, em 15.11. 1964.

Exerci ainda o jornalismo e o magistério, tanto no Rio quanto em Brasília. Meu primeiro trabalho, contudo, foi como securitário, na Velha Capital, a não ser pelos meses em que lecionei no Seminário de Leopoldina, cidade em que prestei, após o curso clássico, o serviço militar (tiro-de-guerra).

Já radicado em Brasília, casei-me no Rio, em 1962, com a capixaba (de Cachoeiro do Itapemirim) Célia Santos. No ano seguinte nasceram os gêmeos, brasilienses, Marília e Anderson. Este e Janete Ferreira Horta nos dariam, em 1998. uma netinha, Fernanda.
Meus pais aqui faleceram, mamãe em 1980, papai cinco anos depois. Augusto Flávio os seguiria em 2007.


         ENTREVISTA COM ANDERSON BRAGA HORTA

SELMO – Quais as suas outras atividades, além de escrever?

ANDERSON BRAGA HORTA – Menino, comecei a me interessar por desenho. Desenhava em toda parte: em pedaços de papel, na areia da rua (em Goiânia, onde morava nessa época, depois em Manhumirim, MG)... Influência das histórias em quadrinhos, que eu devorava, sem prejuízo de adorar os livros para crianças de Monteiro Lobato e de ler tudo o que me viesse às mãos. Cheguei a redigir e desenhar, na conformidade dos modelos que consumia, uma dessas historinhas.
Que mais? Fui professor e securitário, trabalhei em jornal, diplomei-me em Direito, fiz o primeiro vestibular da Universidade de Brasília, onde iniciei (e não concluí) o Curso de Letras Brasileiras. Ainda no Rio de Janeiro, entrei para o serviço da Câmara dos Deputados, do qual me aposentei há vários anos.


SELMO - Como surgiu seu interesse literário?

ANDERSON BRAGA HORTA - Meus pais eram professores e poetas, de modo que os livros eram presença marcante em nossa casa. Descobri que também queria escrever quando mergulhei no Tesouro da Juventude, nos seus diversos volumes de variadíssimos textos em prosa e em verso, principalmente quando li pela primeira vez o Navio Negreiro, de Castro Alves. Isso foi um pouco antes dos 15 anos. Desde então venho mantendo a chama.


SELMO – Quantos e quais os seus livros publicados dentro e fora do País?

ANDERSON BRAGA HORTA – Publiquei quinze livros de poesia, dentre os quais destaco: Altiplano e Outros Poemas, Exercícios de Homem, Cronoscópio, O Pássaro no Aquário, Fragmentos da Paixão: Poemas Reunidos, Antologia Pessoal e 50 Poemas Escolhidos pelo Autor; cinco de ensaios: A Aventura Espiritual de Álvares de Azevedo, Sob o Signo da Poesia: Literatura em Brasília, Traduzir Poesia (com grande número de traduções), Testemunho & Participação e Criadores de Mantras; e acabo de dar a lume (pela Thesaurus, de Brasília) os contos de Pulso Instantâneo. Se computar as obras em parceria, as traduções e outras, esse número mais do que dobraria. Mas foi tudo editado em nosso país; no exterior, a mencionar apenas algumas antologias de que participo.


SELMO – Qual a atmosfera propícia aos seus impactos literários?

ANDERSON BRAGA HORTA – Paz e concentração. Talvez por isso, prefiro escrever à noite.


SELMO – Quais os escritores que você admira?

ANDERSON BRAGA HORTA – São tantos que não dá para enumerar. Limito-me aos que mais entranhadamente me influenciaram, já na condição de modelos a imitar, nas diversas fases de meu aprendizado, já como objetos de desinteressada admiração. E avultam, no primeiro caso, os nomes de nossos grandes românticos, mas ainda os de alguns parnasianos e simbolistas, seguidos de uma plêiade de modernistas. Para exemplificar o segundo caso, impõe-se o de Machado de Assis. Dentre os portugueses, lembro Camões, Antero, Pessoa... Também, é claro, poderia arrolar nomes de outras literaturas, e dos contemporâneos há muitos que engrossariam a lista. Mas bastam os mencionados para testemunhar o espectro de minha formação e a recusa de radicalismos de escola em meu universo literário (e vital, acrescento).


SELMO – Qual mensagem de incentivo você daria para os novos poetas?

ANDERSON BRAGA HORTA – Diria que, se é verdade que a poesia tem por finalidade satisfazer um dos aspectos da necessidade espiritual, conquistada pelo Homem, de atingir ou realizar o belo; se tem sentido dizer que o poema é uma espécie de mantra, ou a palavra mágica pela qual nos pomos em comunicação com as esferas do indizíve”, ou que a poesia é a arte de tentar a fusão, na palavra, de pensamento e emoção, visando ao homem total, à realidade total, como decantação da humanidade presente e prospecção da humanidade futura, vale a pena atender ao seu chamamento e engajar-se nessa luta (que é aparentemente vã, e é sem fim, como diz o poema de Drummond), independentemente de qualquer eventual sucesso mundano.

Condensando esta jornada inconclusa, compus o seguinte soneto, que lhe ofereço cordialmente:


PÉRIPLO

A Selmo Vasconcellos

Nasci na região mais alta e fria
de Minas, entre as serras e a neblina.
Meus pais eram poetas: foi-me a sina
ter no Poema a minha estrela-guia.

De Minas a Goiás, depois ao Rio,
um périplo cumpri, cumprindo o fado;
mas, o leme nas mãos enfim tomado,
em Brasília ancorei o meu navio.

Entre zelos de esposa, filhos, neta,
entre amigos e irmãos, bendigo a via
que nos conduz à inevitável meta.

E o sentido da vida se alumia
ao sol do amor, que amor é quem completa
a dádiva sublime da poesia.

Brasília, 9 de fevereiro de 2009

***

NÓS, O HOMEM

Mineiro noturno, escavo
minhas minas de angústia.
Uma luz na testa –
um caminho, antolhos, parede de pedra.
Uno e múltiplo,
solidário e solitário, respiro
pó e treva. E esperança.
Escavo a terra,
mas de mim mesmo extraio as minhas gemas.
Elas brilham no escuro,
iluminam meus medos e meus tédios,
minha força e minha fé.
Ajo e contemplo-me.
Escavo, escravo : de antever-me
lavado em névoas matutinas.
E vou, retórico e despido,
a caminho de mim.



INVENÇÃO DA NOITE

Deste silêncio e desta treva
construo a minha noite
particular e intransferível.
Não preciso inventar as estrelas,
elas nascem e brilham por si mesmas.
E à meia-noite uma lua triste
Levanta a cara de prata no horizonte
e verte nos meus olhos um choro, um frio.

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